Textos

Inhotim

Paula correu sem saída. Queria fugir de seus sentimentos. Tinha medo no que iria dar. Entrou na área do Parque e sem pensar adquiriu o ingresso. A beleza e serenidade do lugar a interessou. Logo avistou um guia a percorrer caminhos com seu grupo e de perto os foi seguindo. Que caminho: a serenidade do lago, as águas tranqüilas, contrastavam com o turbilhão de tristezas que vivia. O espelhamento da natureza em torno. O peixe laranja que vinha respirar junto à superfície. O acentuado colorido da edificação na beira do lago a foram acalmando e envolvendo. A cada trecho uma planta exótica, a delicadeza de uma flor, a sintonia com alguma obra de arte exposta. Chegara como em fuga, mas a serenidade do lugar a estava contaminando, enfeitiçando e como poucas situações anteriores, a interessando profundamente.
Aproximou-se do guia e dos participantes do grupo sorvendo cada uma das explicações. Esqueceu-se de tudo naquele momento mágico. Apenas admirou a beleza presente. Seu encantamento e os sentimentos que despertava. Aquele guia, calma e lentamente assinalava cada detalhe importante e ressaltava a beleza nos mais simples elemento presentes. Conforme andava e ouvia foi se tranquilizando. Por fim, sentou-se em imenso e belo banco recriado de uma árvore condenada pela ação das intempéries, imprópria para aproveitamento industrial, mas belíssima após ser trabalhada por Hugo França, artista gaúcho famoso, que ressalta cada detalhe majestoso das peças desprezadas.

Após longo silêncio mental brotou um pensamento convincente: será que não era isto que a atrapalhava? Apenas perceber a utilidade e caminho comum esquecendo a beleza. Esquecendo o lado lúdico. Não soube quanto tempo permaneceu ali sentada. Levantando-se, serena retornou para sua vida. Inhotim. Viveria a partir dali como se fosse uma parte de Inhotim.

Jane Maria Ulbrich Oficina do Guto